Opinião JC – Indício de retaliação

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Apolítica e a economia andam de mãos dadas quando o assunto é a perspectiva pragmática do poder. Quando o bolso do cidadão começa a sofrer os efeitos de uma política econômica mal conduzida, ou mesmo de uma conjuntura adversa contra a qual os governos não encontram solução fácil, a popularidade dos líderes associados às dificuldades esboça os primeiros sinais de desgaste. É o que acontece durante as crises em várias
partes do mundo, como se viu recentemente na Europa, e como já se deu diversas vezes no Brasil. Antes sequer de ser cogitada a atual onda de manifestações, a queda na popularidade da presidente Dilma Rousseff já era vista como consequência da alta de preços em evolução no País, em paralelo à ameaça de estagnação representada por números tímidos no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

Por outro lado, a política pode influenciar diretamente a condução dos fatos econômicos, com objetivos, explícitos ou velados, planejados para levar a novos rebatimentos políticos. Desde que o governador Eduardo Campos vem sendo observado como candidato virtual à sucessão de Dilma, analistas e atores políticos levantam a hipótese de uma retaliação do governo federal, que seria constatada a partir de cortes de investimentos e da redução dos repasses de recursos da União para os projetos e programas em desenvolvimento no Estado. Essa possibilidade preocupante foi tratada em matéria que publicamos dia 16.

A liberação de recursos para obras importantes em Pernambuco sofre cada vez mais para atravessar os obstáculos do trâmite burocrático. Como o Arco Metropolitano, que irá desviar o tráfego de caminhões pesados do trecho urbano da BR-101. A presidente anunciou em março que o custo de R$ 1,2 bilhão seria bancado pelo governo federal, mas o Departamento Nacional de Infraestrutura (Dnit) não tem previsão nem para dar partida na obra. De acordo com o Portal da Transparência, o Estado recebeu da União este ano apenas 27% do recebido em 2012 – mas São Paulo teve menos ainda, 22%. A dúvida fica no ar, mas o indício de retaliação persiste, depois de alguns meses ventilada. Levantamento de O Estado de S. Paulo em março apontou que, ano passado, as transferências voluntárias para Pernambuco atingiram o mais baixo valor desde 2006, antes da posse de Eduardo Campos, e muito distante do recebido em 2010, no último ano do governo Lula – R$ 219 milhões em 2012, contra R$
994 milhões em 2010.

Os repasses que serão efetuados em 2013 poderão ratificar ou não a desconfiança de pressão econômica sobre as aspirações políticas legítimas do governador.

Se confirmada, irá configurar um argumento a mais para a tese de reformulação do pacto federativo, que vem sendo defendida por Eduardo e outros governadores do Nordeste, cansados da dependência da boa vontade e da disposição do titular do momento no Palácio do Planalto.

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